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O título "a senha do antitotalitarismo" indica, neste trabalho, um período em
que a desconstrução do Partido dos Trabalhadores enquanto objeto discursivo na
mídia passou a se apoiar em grande medida em formulações derivadas do discurso
antitotalitarista, elaborado e desenvolvido como tal sobretudo a partir do final dos
anos 60 na França. Trata-se de uma senha no sentido jornalístico porque esta
vertente de crítica ao PT foi avançada e elaborada ao longo do tempo, até tornar-se
uma ―evidência‖. É importante localizar a França na elaboração desse discurso, que
foi magnificado pela inédita associação a métodos jornalísticos agressivos a ponto
de muitos estudiosos daquele país identificarem naquele momento o nascimento do
―intelectual midiático‖. Isto ocorria em paralelo à autoconsciência da imprensa de
sua verdadeira massificação e capacidade de criar acontecimentos, fenômeno
observável em diversos países, tendo como paradigma o Caso Watergate, nos
Estados Unidos. Na França, o antitotalitarismo foi mobilizado nos anos 70 para a
denúncia e sistemático desmonte do Partido Comunista e da União de Esquerda,
que se formava com o Partido Socialista. Apoiou-se em uma prática de associação
imediata e moralista (ou seja, não histórica ou material) de toda esquerda à União
Soviética, impregnando qualquer proposição daquele campo com todas as mazelas
associadas ao dito socialismo real e, cada vez com mais ênfase, ao fascismo
italiano e ao nazismo, elencados em bloco como sistemas totalitários. A
desfiguração do PCF é observável em discurso, em seus programas de governo e,
finalmente, nos próprios resultados eleitorais, conforme será demonstrado.