Este trabalho tem como objetivo compreender como se dá o uso de conteúdos digitais obtidos da Internet por parte dos docentes brasileiros e como eles interagem com alguns dos conceitos associados aos Recursos Educacionais Abertos (REA): acesso, uso, adaptação e redistribuição. Partimos da constatação advinda de dados quantitativos produzidos anualmente pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) de que esse tipo de conteúdo é amplamente utilizado para a preparação de aulas, para além das dificuldades relativas a infraestrutura e conectividade que ainda restringem o uso das novas tecnologias nas escolas brasileiras. A partir da análise de um conjunto de entrevistas realizadas em duas cidades do estado de São Paulo em 2013, buscamos desmistificar alguns dos supostos relacionados ao uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em sala de aula: (i) o primeiro diz respeito à centralidade do livro didático e a ideia de que haveria uma preferência por materiais prontos devido à falta de tempo para a preparação das aulas; (ii) o segundo se refere à influência dos direitos autorais nas práticas de acesso, uso e distribuição de conteúdos por parte de professoras e professores e (iii) o terceiro trata da centralidade das tecnologias na mudança das práticas pedagógicas e o fato de que os docentes deveriam se adaptá-las às novas tecnologias. Concluímos que a seleção de conteúdos digitais é orientada por necessidades e abordagens pedagógicas que seguem sendo em grande medida pautadas por políticas educativas nacionais, pelo projeto da escola, pelas práticas de cada docente e sua experiência em responder à diversidade de perfis dos estudantes – o que não impede seu uso criativo para melhor cumprir com as diretrizes e objetivos do currículo nacional para além do livro didático. Na tentativa de trazer nuances à discussão, buscamos também historicizar o conceito de REA, particularmente no que se refere à discussão sobre educação aberta, e as propostas de “educação para a sociedade do conhecimento” desenvolvidas pelo Banco Mundial, relacionando-as com o avanço do neoliberalismo enquanto teoria políticoeconômica que ganha força principalmente a partir dos anos 70.