Entre os anos de 2003 e 2015, período em que o Brasil teve quatro mandatos consecutivos de governos federais do Partido dos Trabalhadores (PT), três atores distintos experimentaram um arranjo diferenciado de participação social, ao compartilharem a gestão do MOVA-Brasil (M-BR). Com o objetivo de alfabetizar jovens e adultos nas regiões mais pobres do país, o projeto foi implementado pela Petrobras, em parceria com os sindicatos de trabalhadores petroleiros da FUP e o Instituto Paulo Freire/IFP, uma organização da sociedade civil. Essa dissertação analisou os padrões das interações vivenciadas pelos três atores no âmbito do Comitê Gestor do M-BR, de composição paritária. O objetivo foi investigar os impactos que essa experiência provocou sobre os repertórios da estatal e das duas entidades e identificar os principais efeitos de mútua constituição decorrentes das interações realizadas. A pesquisa testou pressupostos empíricos e teóricos apontados pela literatura que investiga o fenômeno de alargamento da participação social nas políticas públicas, nos contextos dos governos petistas. A metodologia adotada foi de estudo de caso, tendo o Comitê Gestor como lócus do estudo. Para isso foram realizadas entrevistas semiestruturadas com interlocutores que ocuparam posições-chave na gestão do projeto. Além disso, a pesquisa utilizou como fonte de evidências publicações e documentos do MOVA-Brasil, como cartilhas, livros, atas de reuniões, boletins e cadernos de formação. Os achados do estudo confirmam a principal tese trabalhada pela literatura especializada: os movimentos importam para as políticas sociais, assim como os resultados produzidos por essas políticas importam para os movimentos, o que não significa, necessariamente, desmobilização social. A pesquisa apontou que, tanto a FUP, quanto a Petrobras e o IPF tiveram seus repertórios profundamente alterados pela experiência de cogestão do M-BR, que, por sua vez, impactou também os mais de 600 municípios atendidos nas regiões Nordeste, Norte e Sudeste do país. O estudo verificou, ainda, que os resultados positivos do projeto não comprometeram a autonomia sindical, nem as demandas corporativas dos trabalhadores petroleiros, que realizaram no período do MOVA-Brasil diversas greves e ações de protestos.