Descripción:
A dissertação teve como objetivo identificar e analisar quais são os recursos
teórico-metodológicos, ético-políticos, empregados por trabalhadores sociais no
atendimento à população em situação de rua no âmbito do Sistema Único de
Assistência Social. Por meio de uma pesquisa etnográfica, buscamos propor uma
discussão que fosse capaz de evidenciar o que se realiza concretamente em termos
de atendimento socioassistencial para pessoas em situação de rua, no âmbito da
Política de Assistência Social, e quais as conexões entre as práticas cotidianas e o
que se desenha como assistência social no plano teórico, legal e normativo. Foi
possível constatar que em um mesmo espaço institucional convivem, em diferentes
graus, diferentes entendimentos sobre a pobreza - seja como uma disfunção individual
ou como expressão de conjunturas sociais e históricas. O resultado dessa convivência
é a prevalência de práticas orientadas pela concepção de que o trabalho no Centro
Pop consiste em promover ações de amparo às pessoas em situação de rua, com
maior esforço e destinação de recursos àqueles que se mostrarem efetivamente
dispostos a abandonarem a vida percebida como viciosa e, portanto, responsável pela
sua condição. Nessa concepção, o uso de álcool e outras drogas ocupa um papel
central na degeneração do arbítrio e da capacidade do sujeito de viver uma vida digna,
tornando-o assim, um alvo preferencial das ações do serviço. Por outro lado,
identificamos trabalhadores pressionados pela necessidade de ganhar a vida e
também de protegê-la. A violência urbana, as representações de usuários como
sujeitos suspeitos, com aproximações, reais ou não, com atividades criminosas e
reações eventualmente hostis às normas e regramentos do serviço, criam uma
atmosfera de medo que alimenta a noção de que o trabalho é perigoso. Em meio a
isso, os trabalhadores, encontram-se na responsabilidade de promover condições
para o desenvolvimento de novos projetos de vida. Assim, o alto grau de
discricionariedade exigido por esse trabalho, abre espaço para uma diversidade de
práticas resultantes da complexa interação entre as expectativas e representações
dos trabalhadores, do público e da sociedade sobre a resposta estatal para a questão,
e desenvolvidas nas condições materiais oferecidas aos executores diretos dessa
política.