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A narrativa de um semiárido de fome e escassez alimentou historicamente uma lógica de pensamento sobre a região baseada no paradigma do combate à seca. Sob tal perspectiva, o território foi concebido como um lugar de inviabilidade do desenvolvimento, e sua população, na grande maioria, fadada a situações de pobreza e dependência de ações clientelistas e populistas do Estado Brasileiro. Na virada do século vinte um, outras referências de análise e de intervenção foram sendo discutidas, tendo como um dos pontos de partida a fundação da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em 1999, surgindo assim, a perspectiva da convivência com o semiárido. O objetivo do presente estudo foi compreender a partir da percepção de agricultores e agricultoras do Sertão Central no estado do Ceará, as mudanças sociais ocorridas no semiárido nas últimas décadas, tendo como foco as narrativas destes atores sobre os últimos períodos de seca vivenciados. Para isto, foram entrevistadas três famílias agricultoras dos municípios de Choró, Quixeramobim e Quixadá. Sob a lógica das falas dos entrevistados, a pesquisa aponta que a cisterna é a grande referência de comparação entre o combate à seca e a perspectiva da convivência com o semiárido. Além disso, as políticas públicas implantadas pelos governos Lula e Dilma foram destacadas por todos os entrevistados como centrais para garantir mais resiliência e autonomia no prolongado período de seca ocorrido no período de 2012 a 2017.